Saindo e entrando na prisão

Eu estava novamente em confinamento solitário, pensando em suicídio, apenas com pensamentos de que não poderia continuar naquela situação por mais tempo. Eu estava enfrentando arrependimentos profundos pelo que fiz e pela pessoa que eu me tornei. Se eu continuasse no caminho que estava, eu sabia que isso machucaria mais pessoas e logo eu estaria morto. Mas um medo, mais do que qualquer outro, levou-me ao limite da minha força.

O que acontecerá se eu nunca mais ver minha filha?

Ela tinha dois meses e meio quando fui preso pela primeira vez e, pouco depois, fui mandado para a prisão. Não houve uma única visita. Eu não suportava a idéia de ela crescer sem um pai como eu, ou de aprender a chamar outro homem de "papai", especialmente porque o pai estava atrás das grades com alguns pedófilos.

Sozinho naquela cela de um metro e noventa de altura, cheguei ao ponto da rendição espiritual, de realmente me comprometer a mudar minha vida, não importando o que fosse necessário. Eu estava determinado a fazer parte da vida da minha filha novamente. Eu lutaria com unhas e dentes para que isso acontecesse.

Pode-se dizer que eu comecei a caminhada para a prisão ainda muito jovem. Eu cresci com um irmão mais velho e uma irmã mais nova. Sendo uma criança muito forte e teimosa, eu só fazia o que eu queria e nunca obedecia a minha mãe. Nenhuma quantidade de estímulo negativo funcionou em mim. Eu só fiquei pior.

Eu ainda tenho algumas cicatrizes nas costas das surras homéricas que levei

Eu era um moleque atentado. Lembro que adorava brincar com fogo. Certa vez, quando eu tinha uns seis anos, juntei uma série de fogos de artifício e os coloquei em minha caixa de lápis de cera. Eu pensei que eles iriam estourar contidos dentro da caixa, mas a caixa explodiu e colocou fogo em toda a janela, cortina e etc.

Nunca gostei de autoridade, nem de pessoas brancas e não respeitava as mulheres. Então, se você fosse branco, responsável e mulher, eu não a respeitaria de jeito nenhum. Isso me causou problemas assim que entrei para a escola. Era muito chato e desafiava todo mundo, uma vez cheguei a ser espancado por conta disso. Pra ter uma ideia, no final dos meus estudos eu já havia frequentado três escolas no ensino fundamental, três escolas no antigo ginásio (5º a 8º série) e duas escolas no Ensino Médio.

E muitas vezes, minhas punições eram mais do que apenas surras. A família de minha mãe era descendente de escravos e ainda se apegavam à mentalidade dos escravos através de um estilo autoritário de parentalidade. Você não responde ou faz perguntas. Apenas faça o que eles dizem, ou então... Tentar não fazer o que eles mandavam apenas significava ser espancado em mais lugares.

Eles me batiam com tudo: cabos de extensão, fios de telefone e outras coisas ao redor da casa. Me lembro de se meter em problemas na escola e ir para casa pensando que eles iam me bater imediatamente. Não, minha mãe esperaria até que eu me banhasse e, assim que me secasse, ela me bateria no traseiro nu. E não era só a minha mãe, minhas tias enormes também me puniam severamente. Eu ainda tenho algumas cicatrizes nas costas dessas surras que levei.

Eu acho que matei minha criança interior. Tranquei a criança em mim e realmente não me importei com nada nem ninguém. Eu não me lembro de ser uma criança como meus colegas de classe. Tinha pressa de crescer e sair de casa.

Eu não sabia quem era meu pai verdadeiro durante a maior parte da minha infância, embora tivesse um padrasto: o pai da minha irmã. Ele trabalhava fora da cidade na construção civil e só voltava para casa em alguns fins de semana. Mas quando ele voltava, muitas vezes dificultava muito. Ele me punia novamente mesmo depois que minha mãe já tivesse feito isso.

"Ele não se parece com você?" Eles disseram. Então eles me disseram logo: “Darryl não é seu tio. Ele é seu pai '”.

Mas quando eu tinha 12 anos, minha avó, minha mãe e minha tia me sentaram e disseram: "Temos algo importante para lhe dizer". Então eles começaram a me mostrar fotos desse homem que eu conhecia como tio Daryl. Eu costumava visitar minha avó às vezes.
"Não se parece com você?", Disseram eles. Então eles me disseram diretamente: "Darryl não é seu tio, ele é seu pai."

Eu estava confuso. Eu realmente não entendia, eu não tinha nenhum laço emocional ou ligação com ele. Ele nunca me levou pra passear ou passar tempo juntos. E eu nunca tinha pensado sobre quem era meu pai verdadeiro. Eu simplesmente aceitei meu padrasto como meu pai, embora não gostasse muito. Mas depois que descobri, comecei a me importar. Eu queria estar perto do meu pai verdadeiro e queria conhecê-lo.

Mas durante esse tempo, eu estava me metendo em muitos problemas. Por dois anos eu fugi de casa e eles me mandaram para abrigos e centros de detenção para jovens. Isso tornou mais fácil para o meu pai não se envolver comigo, e eu não sei se ele realmente queria. Quando tinha 13 anos, ele fez alguns esforços, mas eu estava entrando e saindo de lares adotivos.

Estava roubando motos, namorando garotas mais velhas que eram membros de gangues... Minhas escolhas estavam me levando para um caminho muito ruim. Eu me lembro especialmente de um incidente: encontrei muita maconha em uma vala e levei para casa, mas depois minha mãe a encontrou sem que eu soubesse. Ela disse que tinha que ir à delegacia para fazer alguma coisa e queria que eu a acompanhasse. Mas quando ela chegou lá, mostrou a minha erva e me colocou num grande problema com a polícia.

Honestamente, acho que ela estava com medo e tentando me proteger. Minha mãe era uma boa serva na igreja que não fumava, não bebia nem se envolvia nada errado. Ela estava muito preocupada com minhas más companhias. Provavelmente pensou que eu poderia me tornar um viciado e acabar morto. E, sabe, olhando para trás, não a culpo.

Mas eu estava muito bolado com ela! Ela costumava me dizer: "Preston, você pode conversar comigo sobre qualquer coisa". Mas ela continuava fazendo relatórios negativos sobre mim para o serviço social e chamando a polícia para me mandar de volta para o centro de detenção. A cultura hip hop do início dos anos 90, na qual eu cresci, tinha essa regra sobre os delatores: nunca conte a ninguém! Se você fizer isso, é a pior forma de traição.Lembro-me que um dia eu soltei todos os parafusos do sedã Thunderbird da minha mãe porque me senti traído. Eu queria machucá-la da mesma maneira que ela me machucou na vida. Eu não sabia como fazer isso. No dia seguinte, ela dirigiu por sua longa viagem até trabalho, mas graças a Deus Ele a guardou. Todos os pneus ficaram intactos. Eu fui tão idiota... Ela poderia ter sofrido um acidente e morrido!

Por estar dentro e fora dos centros de detenção e tratamento, não surpreendeu as pessoas quando fui mandado para a prisão em 2003 pela primeira vez aos 18 anos de idade. Fui condenado por venda e uso de drogas e recebi 20 anos, dos quais eu cumpri cuatro.

Quando saí, eu queria mudar, mas era difícil porque todo mundo que eu conhecia estava vendendo drogas, fumando, bebendo e envolvidos com gangues. Pouco depois de ser libertado, conheci a mãe da minha filha e tive a minha filha em 2008. Mas eu via meus amigos cuidando de seus filhos em meio a venda de drogas, e foi isso que eu fiz. Quando ela era apenas um bebê, fui parado numa blitz “ao acaso” e o policial encontrou três gramas de erva no meu veículo. Posteriormente, fui acusado de posse e associação para o tráfico de drogas e fui enviado para a prisão quando tinha 23 anos de idade. Como eu tinha crimes anteriores, fui sentenciado a 15 anos.

Então, naquele dia, quase dois anos depois, eu estava em confinamento solitário em minha luta, eu não tinha ninguém para culpar mais do que eu mesmo. Eu pude ver onde minhas escolhas me levaram por toda a minha vida. Foi quando finalmente caiu o meu orgulho e eu clamei a Deus para me ajudar.

Não queria ser o pai que meu pai tinha sido para mim

Dois meses mais tarde eu soube que a mãe da minha filha tinha solicitado um formulário de visitante para que minha filha pudesse vir me visitar com minha tia. Eu vi minha filha pela primeira vez em mais de dois anos. Naquela primeira visita, ela ficou comigo o tempo todo, mas não falou muito. Ela realmente não me conhecia ainda. Mas estar com ela me fez ainda mais determinado a limpar meu nome e tornar-me definitivamente parte de sua vida.

Eu não queria ser o pai que meu pai tinha sido para mim. Eu sabia que finalmente era uma escolha que eu tinha que fazer. Eu poderia escolher fazer da forma errada, mas então minha filha cresceria sem um pai, ou pior, ela saberia que eu sou seu pai, mas que nunca mais a veria. Ela poderia pensar que eu não a amava ou que não me importava com ela. As crianças fazem suposições. Eu sei que eu também.

Saí em 2012, mas quando eu me recusei a ficar com a mãe da minha filha novamente como ela esperava, ela manteve minha filha longe de mim. Então, eu trabalhei para pagar a Pensão Alimentícia e o Plano de saúde de uma criança que sequer poderia ver.

Ainda não poderia ter uma casa própria para a minha filha poder ir me visitar, então eu arrumei um trabalho decente e consegui alugar uma casa de dois quartos. Lá eu montei um quarto com cama, brinquedos e roupas para minha filha. Então fui ao tribunal e eu mesmo me representei. Foi um processo de 18 meses, mas eu enfrentei com sucesso objeção após objeção e, finalmente, foi concedida a custódia conjunta e acesso de 50% a minha filha. Agora ela passa 15 dias comigo e 15 com a mãe e não crescerá órfã de pai.

É uma alegria e um prazer vê-la crescer e fazer parte de sua vida. E saber que o homem que sou agora é o tipo de pessoa que espero que ela procure quando quiser se relacionar com um homem. Eu não sou um pai perfeito, mas acredito que me converti em um muito bom.

Talvez, como eu, você não tenha tido um pai e tenha tomado muitas decisões erradas. Se você perceber que sua vida perdeu o controle e quer mudá-la, recomendo que você procure ajuda. É muito importante ter pessoas em nossas vidas que nos ajudem a acreditar que uma vida melhor é possível, que podemos mudar, que podemos tomar boas decisões, vivendo um dia de cada vez.

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Crédito de la foto Johnny Silvercloud

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