Luz, Caos, Ação

Até o meu primeiro aniversário, eu já tinha sido avaliada três vezes com Atraso Global do Desenvolvimento. Eu ainda não conseguia andar nem falar – na verdade, eu só comecei a falar depois que fiz quatro anos, e ainda assim, após três anos de fonoterapia. Porém, eu era um gênio com quebra-cabeças e adorava alinhar meus brinquedos ao invés de brincar com eles. Isso chamou a atenção da minha mãe para a possibilidade de eu ser autista.

Quando entrei para a escola, minha psiquiatra infantil me diagnosticou com Síndrome de Asperger. Nos ensinos fundamental e médio, meu diagnóstico mudou para Transtorno Global do Desenvolvimento sem outra especificação. Agora meu diagnóstico oficial é Transtorno do Espectro Autista. Quando eu estava na escola, os professores não sabiam muito sobre autismo de alto funcionamento e não conseguiam deixar claro para mim suas expectativas. A maioria culpou tanto a mim quanto meus pais pela maneira como eu me comportava e por não seguir as instruções que davam. Porém, não era porque eu queria me comportar mal; eu estava, na verdade, muito estressada.

Aqui está o que você precisa saber a respeito das minhas peculiaridades autistas. Sempre que entro em algum lugar, fico muito sensível a todos os estímulos que recebo do ambiente ao meu redor: dos sons às luzes e cores. Levei bastante tempo para me acostumar com a quantidade de estímulos que meu cérebro interpreta continuamente. Assim, quando eu era mais nova, situações desconhecidas, frequentemente, me deixavam esgotada e, com isso, eu fazia cena ou me fechava, por causa das coisas que via e escutava. Era como se eu estivesse no meio de uma tempestade de areia, sem nenhum padrão ou significado para todas as informações que passavam rapidamente por mim.

Outra dificuldade que tenho é perceber pistas verbais ou expressões corporais e interpretar dicas sutis e metáforas. Minha mente trabalha de maneira extremamente literal. Tive que aprender sobre senso comum: sou melhor nisso agora, apesar de sempre pensar sobre tudo que disse ou fiz, até o último detalhe. Fico assustada quando não sei como as pessoas vão reagir ou pensar a meu respeito. Além disso, quando era mais jovem, minha mente não conseguia fazer conexões entre consequências e comportamentos passados ou futuros.

Quando as pessoas assumem que sabem do que sou capaz, a sensação que dá é de ter sido colocada em uma caixa e que não posso ser eu mesma.

Medicaram-me com Ritalina quando eu tinha 2 anos, o que me fez sentir como se um elefante estivesse sentando em cima de mim, suprimindo todas as minhas emoções. Tomei a medicação até meu quarto ano escolar. O lado bom era que me fazia ser bastante atenciosa com meus professores e fácil de lidar na maior parte do tempo. O lado ruim foi que o remédio me privou de aprender tudo que eu precisava.

Durante todo o Ensino Fundamental, implicavam comigo, me provocavam e agrediam. Eu brincava com outras crianças, mas não entendia a razão deles me tratarem daquela forma. Tolerei muito abuso apenas para que eles me incluíssem. Eu fui, inclusive, chutada durante o recreio uma vez. No meio do Ensino Fundamental, meus colegas de classe começaram a me ignorar, o que foi mais um passo nos maus-tratos. No Ensino Médio, consegui fazer alguns amigos. Eu tentava procurar pessoas que estivem sozinhas, pois imaginava que elas, provavelmente, se sentiam como eu.

Sempre me senti diferente de outras pessoas. Acredito que tenha muita gente como eu que se sente em choque com a norma. Eu nem sempre soube porque era diferente, ou o que eu fazia para ser diferente – às vezes, eu ainda não percebo. Na minha cabeça, o que eu estou fazendo ou pensando me parece normal.

As pessoas, frequentemente, acham que entendem minha capacidade de realizar determinadas atividades, porque conhecem outra pessoa que tem autismo. No entanto, uma das coisas mais interessantes a respeito do autismo é que se manifesta de maneira diferente em cada um; só porque eu me comporto ou penso de uma forma, não significa que seja igual ao comportamento ou pensamento de outra pessoa com autismo.

Assim, quando as pessoas assumem que sabem do que sou capaz, a sensação que dá é de ter sido colocada em uma caixa e que não posso ser eu mesma. Sinto-me pressionada a fazer coisas que não me deixam confortável ou ainda subestimada nas minhas habilidades. Às vezes, gostaria apenas que as pessoas me aceitassem como sou.

Sim, eu já passei por estresse, desafios e dificuldades durante toda a minha vida. Porém, cada luta me aproximou de onde estou hoje. Eu sou quem sou por causa dessas coisas. Tenho orgulho das minhas conquistas: consigo falar em público, encarar desafios que me assustam, superar obstáculos, e sou muito mais flexível do que costumava ser.

Sem as pessoas que me apoiaram e ajudaram nessa trajetória, eu jamais teria chegado tão longe. Principalmente, minha mãe, que permaneceu firme e me encorajou a fazer o meu melhor e não desistir.
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Crédito de la foto Nathan

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